Certificar ou não certificar, eis a questão

O MSC é a certificação de produtos da pesca mais bem estabelecida mundialmente, certificando actualmente 7% das pescas no mundo.
Em Portugal já é possível comprar peixe com o logotipo azul em supermercados como o Lidil. E este ano foi certificado o primeiro recurso português: a sardinha apanhada com cerco.
Mas no meio científico há muito tempo que se questiona as decisões deste órgão. E este ano quando surgiu a certificação da pesca de krill muito se falou sobre os critérios adoptados pelo MSC. Foi agora publicado um artigo de opinião onde se discute toda esta polémica.

O processo de certificação da MSC é muito dispendioso. E claro, se é preciso um grande investimento, então a pesca de pequena escala, como a artesanal, que é a menos nociva para o ambiente marinho, nunca conseguirá entrar na "corrida". E isto é especialmente importante em Portugal, onde a pesca de pequena escala ainda é bastante significativa e deveria ter incentivos para que assim continuasse.
Outra contradição é facto de determinadas pescas certificadas serem de arrasto, o que é uma arte pesca altamente prejudicial e destrutiva. E há também o problema de alguns recursos certificados não estarem em boas condições de exploração e de haver reservas quanto à sua utilização, como acontece com o krill, que grande parte da produção serve para alimentar outros animais como peixes, porcos e galinhas. Alimentar outros animais com recursos selvagens é um contra-senso.
O artigo põe também em causa o próprio processo e quem toma as decisões de certificar ou não. E uma das grandes questões é que é a própria indústria que explora o recurso que paga a certificação. Assim não há muita credibilidade no processo, é mais ou menos como: eu pago a uma entidade externa, que avalia o interesse dos blogs, para que me certifique que este é o melhor blog do mundo!
Umas das hipóteses para solucionar esta questão é a indústria, os governos e as ONG, se juntarem para criar certificações regionais. São uma forma de valorizar produtos sustentáveis locais, baseados nas tradições de pesca e na capacidade de manter um rendimento das populações que se vivem dessa actividade. Um bom exemplo é o atum dos Açores, que é apanhado com salto-e-vara, uma forma selectiva e sustentável e de espécies de atum não ameaçadas.



The MSC has become the world's most established fisheries certifier: 94 fisheries are currently MSC-certified, accounting for about 7% of global catch, and about 118 more are under assessment.
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It abides by three main principles. Fisheries must operate so that: fishing can continue indefinitely without overexploiting the resources; the productivity of the ecosystem is preserved; and all local, national and international laws are upheld. In addition, for a product to carry an MSC label, every company in the chain from “boat to plate” must be certified for traceability. The MSC became an independent, non-profit organization in 1999.


in Seafood stewardship in crisis | J. Jacquet, D. Pauly, D. Ainley, S. Holt, P. Dayton, J. Jackson | Nature 467 , 28–29 (02 September 2010)