Em busca do peixe, do ambiente, e da sustentabilidade
Some thoughts of a Portuguese girl living in Sweden...
Para escrever algo sobre mim ou sobre a Suécia é inevitável falar acerca de peixe.
Escolhi viver na Suécia por causa do trabalho e eu trabalho com peixe.
Estudo a sustentabilidade da produção e do consumo de peixe em Portugal.
Tenho o privilégio de trabalhar com uma investigadora especialista no assunto, no SIK – Institutet för Livsmedel och Bioteknik, num grupo de trabalho igualmente sensacional dedicado à produção sustentável de alimentos.
Tal seria mais que suficiente para estar satisfeita com a minha decisão de viver na Suécia.
Mas, para além do trabalho, viver na Suécia significa também ter uma vida mais sustentável.
A minha rotina, os meus hábitos, a minha presença no mundo mudou.
Dos pequenos hábitos ao sentimento de maior responsabilidade social e ambiental, várias coisas fazem agora parte do que eu sou:
- Desloco-me de bicicleta todos os dias e os transportes públicos são bastantes fáceis e acessíveis de usar diariamente;
- Compro regularmente produtos certificados e ambientalmente sustentáveis em qualquer supermercado, porque existem quase sempre ambas as opções nas prateleiras. A diferença de preço por vezes não é grande e é possível fazer a comparação com os produtos normais, existindo sempre a opção de escolha. Isto porque existe uma certificação sueca para grande parte dos produtos: o KRAV. Foi fundada em 1985 com o objectivo de criar um sistema de certificação de alimentos orgânicos de confiança e de fácil utilização pelos consumidores, que assim protegem o ambiente nas suas compras diárias;
- Existem várias lojas de segunda mão com tudo, sobretudo roupa. São uma opção real e acessível, que tornam possível reutilizar em vez de comprar novo;
- O sistema de recolha de lixo, para além da reciclagem, que por acaso está bastante bem estabelecida em Portugal, tem a opção de separar o lixo orgânico e de eliminar essa fracção sem ser necessário ter um sistema de compostagem próprio.
Resumindo, liberto menos emissões de carbono para me movimentar, compro produtos com menor impacto ambiental, reutilizo sempre que posso, e direcciono grande parte do lixo que produzo para sistemas de tratamento.
Estes são alguns dos pormenores que tornam a minha vivência mais responsável e não seriam possíveis sem o forte sentimento de responsabilidade social que existe na Suécia.
Os sistemas funcionam porque a maioria das pessoas acredita neles, participa e confia no seu funcionamento.
Para dar um exemplo, a Suécia é o país da União Europeia com o maior consumo de produtos ambientalmente certificados (43%). Ao contrário de Portugal, que se situa em último lugar, com apenas 7% dos entrevistados a confirmarem a sua preferência por este tipo de produtos.
Para além disso, há um forte sentido de responsabilidade em relação à preservação da natureza.
A Suécia tem uma longa tradição de iniciativas e políticas ambientais ambiciosas.
Por exemplo, foi o primeiro país, em 1967, a estabelecer uma Agência Nacional de Protecção do Ambiente e em 1996, a política do governo da época definiu que a Suécia devia ser “uma força de liderança e um exemplo para outros países no seu esforço para criar um desenvolvimento ecologicamente sustentável”.
Em 2009, quando presidiu a União Europeia, a Suécia teve como prioridades oficiais a crise financeira, o desafio das alterações climáticas e a competitividade da economia europeia fortalecida pela sua conversão numa economia eco-eficiente.
A eficiência ambiental está directamente relacionada com a eficiência económica.
Quanto mais eficientes formos na utilização dos recursos, menor será o desperdício, e por isso os custos serão também reduzidos, aumentando a capacidade de exploração a longo prazo.
Mas o que faz a diferenca para que isto seja possível acontecer aqui e não tanto noutros países é o tempo.
A maioria das pessoas que vivem na Suécia tem tempo.
Tem tempo para viver, aprender, partilhar, observar a natureza, valorizar momentos.
Ter tempo é essencial porque só assim é possível dar valor às coisas mais simples da vida, que precisam de tempo para ser apreciadas.
E para ter tempo é preciso uma desaceleração no modo de vida moderno, basear a riqueza na essência do ser humano e na partilha responsável do planeta com todos os seres que nele habitam.
A preservação dos recursos e um modo de vida sustentável são as únicas soluções para continuarmos a existir num planeta com recursos limitados e uma população a crescer.
Tenho saudades do que ficou em Portugal, esse sentimento tão tipicamente português, sobretudo das pessoas.
Mas no fim de contas acho que levo da Suécia nem mais nem menos amigos do que os que teria feito noutro sítio.
Depois de ultrapassar as barreiras culturais é possível sentir as mesmas emoções.
E os sentimentos de amizade, justiça, confiança e honestidade, esses vão ficar para sempre comigo.
O peixe é talvez a única coisa impossível de comparar.
O arenque é um excelente peixe típico dos países Escandinavos.
O bacalhau, tão importante na cozinha portuguesa, vem também destas águas.
Mas o meu fascínio continua a ser a sardinha.
O sabor do mar português continua a ser único.
A forma como é pescado o peixe, nalguns sítios ainda de forma bastante tradicional, a qualidade, a frescura, os saberes de como cozinhar, são factores que permitem manter os sabores únicos.
E a maior riqueza está em conservá-los.
Para escrever algo sobre mim ou sobre a Suécia é inevitável falar acerca de peixe.
Escolhi viver na Suécia por causa do trabalho e eu trabalho com peixe.
Estudo a sustentabilidade da produção e do consumo de peixe em Portugal.
Tenho o privilégio de trabalhar com uma investigadora especialista no assunto, no SIK – Institutet för Livsmedel och Bioteknik, num grupo de trabalho igualmente sensacional dedicado à produção sustentável de alimentos.
Tal seria mais que suficiente para estar satisfeita com a minha decisão de viver na Suécia.
Mas, para além do trabalho, viver na Suécia significa também ter uma vida mais sustentável.
A minha rotina, os meus hábitos, a minha presença no mundo mudou.
Dos pequenos hábitos ao sentimento de maior responsabilidade social e ambiental, várias coisas fazem agora parte do que eu sou:
- Desloco-me de bicicleta todos os dias e os transportes públicos são bastantes fáceis e acessíveis de usar diariamente;
- Compro regularmente produtos certificados e ambientalmente sustentáveis em qualquer supermercado, porque existem quase sempre ambas as opções nas prateleiras. A diferença de preço por vezes não é grande e é possível fazer a comparação com os produtos normais, existindo sempre a opção de escolha. Isto porque existe uma certificação sueca para grande parte dos produtos: o KRAV. Foi fundada em 1985 com o objectivo de criar um sistema de certificação de alimentos orgânicos de confiança e de fácil utilização pelos consumidores, que assim protegem o ambiente nas suas compras diárias;
- Existem várias lojas de segunda mão com tudo, sobretudo roupa. São uma opção real e acessível, que tornam possível reutilizar em vez de comprar novo;
- O sistema de recolha de lixo, para além da reciclagem, que por acaso está bastante bem estabelecida em Portugal, tem a opção de separar o lixo orgânico e de eliminar essa fracção sem ser necessário ter um sistema de compostagem próprio.
Resumindo, liberto menos emissões de carbono para me movimentar, compro produtos com menor impacto ambiental, reutilizo sempre que posso, e direcciono grande parte do lixo que produzo para sistemas de tratamento.
Estes são alguns dos pormenores que tornam a minha vivência mais responsável e não seriam possíveis sem o forte sentimento de responsabilidade social que existe na Suécia.
Os sistemas funcionam porque a maioria das pessoas acredita neles, participa e confia no seu funcionamento.
Para dar um exemplo, a Suécia é o país da União Europeia com o maior consumo de produtos ambientalmente certificados (43%). Ao contrário de Portugal, que se situa em último lugar, com apenas 7% dos entrevistados a confirmarem a sua preferência por este tipo de produtos.
Para além disso, há um forte sentido de responsabilidade em relação à preservação da natureza.
A Suécia tem uma longa tradição de iniciativas e políticas ambientais ambiciosas.
Por exemplo, foi o primeiro país, em 1967, a estabelecer uma Agência Nacional de Protecção do Ambiente e em 1996, a política do governo da época definiu que a Suécia devia ser “uma força de liderança e um exemplo para outros países no seu esforço para criar um desenvolvimento ecologicamente sustentável”.
Em 2009, quando presidiu a União Europeia, a Suécia teve como prioridades oficiais a crise financeira, o desafio das alterações climáticas e a competitividade da economia europeia fortalecida pela sua conversão numa economia eco-eficiente.
A eficiência ambiental está directamente relacionada com a eficiência económica.
Quanto mais eficientes formos na utilização dos recursos, menor será o desperdício, e por isso os custos serão também reduzidos, aumentando a capacidade de exploração a longo prazo.
Mas o que faz a diferenca para que isto seja possível acontecer aqui e não tanto noutros países é o tempo.
A maioria das pessoas que vivem na Suécia tem tempo.
Tem tempo para viver, aprender, partilhar, observar a natureza, valorizar momentos.
Ter tempo é essencial porque só assim é possível dar valor às coisas mais simples da vida, que precisam de tempo para ser apreciadas.
E para ter tempo é preciso uma desaceleração no modo de vida moderno, basear a riqueza na essência do ser humano e na partilha responsável do planeta com todos os seres que nele habitam.
A preservação dos recursos e um modo de vida sustentável são as únicas soluções para continuarmos a existir num planeta com recursos limitados e uma população a crescer.
Tenho saudades do que ficou em Portugal, esse sentimento tão tipicamente português, sobretudo das pessoas.
Mas no fim de contas acho que levo da Suécia nem mais nem menos amigos do que os que teria feito noutro sítio.
Depois de ultrapassar as barreiras culturais é possível sentir as mesmas emoções.
E os sentimentos de amizade, justiça, confiança e honestidade, esses vão ficar para sempre comigo.
O peixe é talvez a única coisa impossível de comparar.
O arenque é um excelente peixe típico dos países Escandinavos.
O bacalhau, tão importante na cozinha portuguesa, vem também destas águas.
Mas o meu fascínio continua a ser a sardinha.
O sabor do mar português continua a ser único.
A forma como é pescado o peixe, nalguns sítios ainda de forma bastante tradicional, a qualidade, a frescura, os saberes de como cozinhar, são factores que permitem manter os sabores únicos.
E a maior riqueza está em conservá-los.