Conservar o que é bom


Um dia destes por Portugal a I. mostrou-me as conservas José Gourmet. Encontrei nas lojas gourmet do CCB e no aeroporto.
Com um design moderno e original, valorizam o que há de melhor nos produtos tradicionais portugueses. E as conservas de pescado são uma das apostas.
Acho a ideia muito interessante! Uma lata de conserva de sardinha, ou de outro pescado, é sem dúvida um fast food de proteína animal selvagem, de qualidade e tipicamente português.
Se em Portugal sabemos fazer conservas e temos o melhor peixe de mundo, porque é que os portugueses não utilizam e valorizam o que é bom?
Lembrou-me de há uns anos uns amigos italianos levarem das férias de Portugal latas de conserva de sardinha para darem à família. Era a melhor lembrança que poderiam oferecer a alguém que aprecia boa comida.

Fui à procura de mais informação sobre a empresa e partilho exactamente da mesma ideia que motivou o projecto. É difícil de encontrar produtos portugueses fora de Portugal:
«Quando o meu pai viveu fora do país sentiu falta dos produtos nacionais. Verificou, então, que os produtos de qualidade de outros países, como queijos, tinham muita procura», conta Pedro Ribeiro, gestor da José Gourmet. Estávamos em 2008 e o projecto da empresa com base em produtos nacionais germinava já há algum tempo na cabeça de Adriano Ribeiro, pai de Pedro.




ARTE foi o nome escolhido para a colecção de latas de conservas de formato tradicional mas com uma imagem contemporânea. O ilustrador Gémeo Luís, que desde o início da José Gourmet trabalha a imagem da empresa familiar, inserindo o produto tradicional dentro de embalagens modernas e apelativas, desafiou 11 colegas a reinventar a imagem das latas de conserva. Ao designer residente associaram-se André Letria, Marta Madureira, Cristina Valadas, Teresa Lima, Madalena Matoso.
Juntos decoram as «velhinhas» latas de conserva com lulas de grandes olhos, ventrescas de atum vestidas de capitão do mar, sardinhas em tomate com cartola, entre outros desenhos.

Dentro das latas, encontramos sardinhas em azeite com limão, em tomate ou regadas com azeite extra virgem biológico, lulas de caldeirada, filetes de cavala em azeite, carapauzinhos em molho de escabeche, entre outras iguarias.


Por exemplo aqui na Suécia, à parte do vinho, não encontro produtos portugueses.
Ainda não encontrei uma única vez uma conserva de sardinha portuguesa nos supermercados. Encontro conservas de Marrocos, de Espanha, da Suécia...mas a qualidade não é a mesma, e a sardinha é que é boa!

Um aspecto importante que os produtores portugueses deveriam apostar é na certificação para mostrar que os produtos são de qualidade e biológicos. É uma forma de discriminar positivamente o que é bom, produzido sustentavelmente, e normalmente em pequenas quantidades, o que acarreta custos superiores em relação aos produtos convencionais.
Em países como a Suécia, onde os consumidores têm bastante consideração pelos produtos certificados, esta seria uma boa aposta para qualificar o que é bom de Portugal.
Mas mais incrível para mim foi ter verificado que num supermercado de produtos biológicos em Lisboa, não existem conservas de pescado portuguesas!
Provavelmente porque não têm o selo e a certificação que todos os produtos são de origem biológica. Apesar da sardinha portuguesa e o atum dos Açores terem várias certificações, e serem capturados de uma forma sustentável, falta-lhes a garantia de que o resto dos constituintes, como o azeite ou o óleo, são também biológicos. Imagino que só assim é que poderão ter a devida valorização e entrar no mercado da comercialização deste género de produtos.
É um esforço que pode parecer pouco importante. Mas se estivermos no lugar de um estrangeiro, que provavelmente nunca viu uma sardinha fresca, percebemos a importância de garantir que o que se está a consumir é o melhor peixe do mundo e produzido sustentavelmente.