Ter e desejar

Deste facto, e de que se aprecia menos o que se tem do que aquilo que se deseja,
nasce o atenuarem-se as diferenças do que se sente, em relação às diferenças do que se ganha;
e disto tudo tem o povo sua intuição, quando diz que dá Deus o frio conforme a roupa.
Não se caia, porém, no exagero oposto, de supor que o nosso trabalhador tem o indispensável para viver, nem se eleve a excessiva sobriedade à categoria de grande virtude.


Ferreira Dias Júnior | Linha do rumo – notas de economia Portuguesa | 1946

Encontrei esta pérola nas leituras sobre A alimentação Portuguesa de 1951.
O bacalhau era uma das poucas fontes de proteína de origem animal que existia na época disponível para os portugueses. Por isso entra na nossa alimentação com a enorme importância que se mantém nos dias de hoje: era a carne dos pobres.
Ao que tudo indica não havia fome, mas havia populações muito pobres, sobretudo a classe dos trabalhadores rurais. Para enganeram a fome comiam uma alimentação pouco variada, sobretudo pão, e por isso desiquilibrada relativamente aos seus constituintes.
Daí vem a açorda - um prato comum para quem tem pão e azeite!
A comida era cara, a alimentação representava uma grande parte do orçamento familiar - mais de 70% da despesa doméstica. E quanto mais pobres eram as famílias, maior era a % da despesa da alimentação.
Por isso, havia a preocupação do estado em garantir as necessidades básicas e há uma série de estudos sobre a alimentação das populações.
Seria realmente assim?

É porque sobre isto eu não tenho dúvidas:
aprecia-se menos o que se tem do que aquilo que se deseja!