Crescer ou não crescer

Alice no País das Maravilhas é um livro para crianças e para adultos. As crianças reveem-se num imaginário louco onde tudo pode acontecer e os adultos interpretam o non-sense e o absurdo como uma maneira inteligente do autor - matemático e filósofo - transmitir mensagens várias. Os diálogos entre os personagens parecem ter sempre duplos sentidos e um dos meus preferidos é quando Alice encontra o Gato Cheshire e lhe pergunta qual é o caminho que deve escolher. Este responde-lhe que isso dependerá para onde ela quererá ir. Alice não sabe para onde quer ir, nem acredita que faça muita diferença porque tudo é uma loucura naquele sítio. Então o gato responde sabiamente, que nesse caso, é indiferente o caminho que ela escolher. Será que também nós chegámos a um mundo alienado onde tudo pode acontecer e por isso é indiferente o caminho que tomarmos?

Um dos grandes objetivos dos sistemas políticos é proporcionar condições para que os seus cidadãos tenham uma "vida boa" (no sentido Aristotélico) e apostar no crescimento económico foi considerado como a melhor maneira de a atingir. Mas, a certa altura, o crescimento económico deixou de ser um meio para atingir um objetivo e passou a ser o objetivo em si mesmo. Perdemo-nos fascinados no país das maravilhas e andamos loucos como os seus personagens atrás dum propósito único.


Sofia Vaz | Visão Verde | 11.02.08