As varinas
As varinas (peixeiras) formam com os seus pais, maridos e irmãos a mais curiosa população desta cidade; população inteiramente à parte e com carácter e feição própria. São esses rudes operários do mar que fornecem peixe à capital do país: os homens embarcam para ir pescá-lo, as mulheres percorrem para vendê-lo nas ruas da cidade, levando à cabeça uma canastra de fundo chato, equilibrada com graça e habilidade.
É original a sua maneira de trajar: na cabeça usam um chapéu redondo de feltro preto, de grandes abas reviradas; no peito um lenço de cor; acima da cintura uma larga faixa de lã, que dá várias voltas à roda do corpo; saias curtas só até meio da perna; pernas e pés descalços.
As varinas têm um fraseado e expressões peculiares; falam uma algaravia, que é necessário ter ouvido afeito para perceber.
No mais, como todas as peixeiras do Mundo parece condão de ofício! Berram espantosamente e são corajosas e destemidas.
1881, Maria Rattazzi | Portugal de Relance in Luís Chaves | Lisboa nas auras do povo e da História
(retirado de uma parede do Mercado da Ribeira)
Vi este texto numa visita ao Mercado da Ribeira.
Não resisti a fazer dele uma fábula. Fez-me perceber a importância das varinas, as mulheres dos pescadores.
Ficavam em terra mas tinham uma função muito importante: tratavam da comercialização do peixe. Elas é que tratavam do negócio, berravam até vender o peixe, geriam as contas, geriam o orçamento familiar e eram o suporte da actividade económica da pesca.
Quem vai ao mar sabe pescar, quem fica terra sabe vender. E as duas actividades complementam-se.
De acordo com a tradicional percepção de uma divisão sexual do trabalho – “pesca de homem / peixe de mulher” (Amorim, 2005: 659), a omnipresença das mulheres nazarenas nas actividades terrestres da economia de pesca foi, na verdade, fundamental durante muito tempo. Todas as fases da cadeia técnica, de desembarque do produto até ao consumo, passando pela sua transformação e comercialização, eram feitas pelas mulheres.
Daqui
É original a sua maneira de trajar: na cabeça usam um chapéu redondo de feltro preto, de grandes abas reviradas; no peito um lenço de cor; acima da cintura uma larga faixa de lã, que dá várias voltas à roda do corpo; saias curtas só até meio da perna; pernas e pés descalços.
As varinas têm um fraseado e expressões peculiares; falam uma algaravia, que é necessário ter ouvido afeito para perceber.
No mais, como todas as peixeiras do Mundo parece condão de ofício! Berram espantosamente e são corajosas e destemidas.
1881, Maria Rattazzi | Portugal de Relance in Luís Chaves | Lisboa nas auras do povo e da História
(retirado de uma parede do Mercado da Ribeira)
Vi este texto numa visita ao Mercado da Ribeira.
Não resisti a fazer dele uma fábula. Fez-me perceber a importância das varinas, as mulheres dos pescadores.
Ficavam em terra mas tinham uma função muito importante: tratavam da comercialização do peixe. Elas é que tratavam do negócio, berravam até vender o peixe, geriam as contas, geriam o orçamento familiar e eram o suporte da actividade económica da pesca.
Quem vai ao mar sabe pescar, quem fica terra sabe vender. E as duas actividades complementam-se.
De acordo com a tradicional percepção de uma divisão sexual do trabalho – “pesca de homem / peixe de mulher” (Amorim, 2005: 659), a omnipresença das mulheres nazarenas nas actividades terrestres da economia de pesca foi, na verdade, fundamental durante muito tempo. Todas as fases da cadeia técnica, de desembarque do produto até ao consumo, passando pela sua transformação e comercialização, eram feitas pelas mulheres.
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